sábado, 2 de fevereiro de 2013

O foco

Como foi comentado num post anterior, quem já operou uma câmera compacta de filme sabe que não havia necessidade de se preocupar com o foco. Você podia até não saber o porquê, ou nem se dava conta disso, mas a abertura da lente era tão pequena que dificilmente uma fotografia ficava fora de foco. Problemas com foco só aconteciam quando o objeto estava muito próximo da câmera.

Uma das consequências da adição de recursos nas máquinas digitais compactas é o aparecimento de preocupações que não existiam antes. É claro que, usando sua máquina no modo automático, essas preocupações são bastante reduzidas. A máquina é capaz de ajustar-se sozinha para que sua fotografia fique, na maioria das vezes, com uma boa qualidade.

Então para que eu vou me preocupar em entender e ajustar o foco minha máquina, se ela faz tudo para mim? O problema é que ela faz o que ela acha que você quer, e não necessariamente o que você deseja. Em alguns casos, você precisa dar uma mãozinha para sua máquina.

Seguem algumas dicas de como ajustar sua máquina para obter uma imagem com o foco no objeto correto.

1) Uso do foco automático: existem várias formas de a máquina ajustar o foco da imagem, mesmo no modo automático. Numa delas, a máquina procura o objeto que está no primeiro plano. Algumas máquinas ainda apresentam simultaneamente outros objetos que também ficam em foco. Normalmente são utilizados retângulos como na imagem a seguir. Nem sempre os celulares exibem essa informação.

Observe que, apesar de diversos objetos estarem presentes na imagem, a máquina procurou aquele que estava em primeiro plano, no caso, o celular de brinquedo. É para esse objeto que a máquina fará o ajuste do foco.

Nem sempre o objeto que você quer focalizar está no primeiro plano ou é selecionado corretamente pela máquina. Daí pode ser utilizada outra forma de ajustar o foco. A maioria das máquinas oferecem a opção de utilizar o ponto central do enquadramento ou um retângulo no centro do quadro para medir e ajustar o foco. A vantagem dessa modalidade é que é possível ter certeza (ou quase) de que seu objeto principal ficará em foco. Caso você queira enquadrá-lo fora do centro, basta seguir os seguintes passos: a) faça o enquadramento e os ajustes desejados (zoom, composição da imagem, sensibilidade, abertura, velocidade...); b) desloque o enquadramento de forma que o objeto escolhido para ficar em foco esteja no centro do visor; c) pressione o disparador a meio curso para que a máquina ajuste o foco no objeto desejado; d) mantenha o disparador a meio curso e retorne ao enquadramento desejado; e e) Conclua o disparo. Enquanto o disparador permanecer a meio curso, o foco da máquina estará travado.

No caso das câmeras de celulares, o foco pode ser definido tocando a tela sobre o objeto desejado. Em algumas delas há opção de travar o foco segurando o objeto ou acionando um ícone de cadeado.

 Nas máquinas do tipo reflex existem vários pontos onde o equipamento procura realizar o ajuste do foco no modo automático. Nesse modelo (Canon EOS 60D) são nove pontos (pequenos quadrados verdes e cinza). Por padrão, a máquina está ajustada para buscar o objeto que estiver em primeiro plano. No caso acima, a torre está a frente do galo. A máquina mostra que a torre está focada deixando os pontos de foco na cor verde.

A maioria das máquinas permite escolher um dos pontos disponíveis para que seja medido o foco. Para deixar o galo em foco, podemos escolher apenas o ponto central e mudar temporariamente o enquadramento para que o objeto desejado fique ao centro da imagem. Pressionado o disparador a meio curso, a máquina irá medir o foco no objeto que estiver bem no meio do quadro.

Sem soltar o disparador retorne ao enquadramento desejado. Enquanto o disparador estiver pressionado o ajuste do foco permanecerá inalterado. Aí é só concluir o disparo.

É importante lembrar que quando se pressiona o disparador a meio curso a máquina ajusta não só o foco como também realiza a fotometria. Se a máquina estiver sendo utilizada no modo manual, isso não será um problema, pois os ajustes feitos anteriormente não serão perdidos. Mas se a máquina estiver sendo utilizada no modo automático ficarão valendo os ajustes da fotometria realizada sobre o objeto focalizado. Isso pode ser um problema com uma imagem que tenha diferença de iluminação entre os diferentes objetos, deixando o objeto focado bem iluminado e os demais com sombra ou com luz estourada.

Ainda há câmeras e celulares que buscam automaticamente colocar em foco rostos humanos ou obter a maior profundidade de campo possível (máximo de planos ou de objetos em foco). Não pretendo abordar esse tipo de função aqui no blog, mas você pode postar um comentário para tirar alguma dúvida sobre esse tipo de função.


2) Foco manual: A não ser que você tenha muita experiência, não recomendo o uso do foco manual em câmeras digitais na maioria das situações. Em poucas máquinas esse recurso ajuda realmente. Como a resolução dos monitores das máquinas é pequena, fica bem difícil utilizar esse recurso com sucesso. Mesmo nas máquinas reflex, poucas são as situações em que esse recurso realmente ajuda. Sugiro que só seja utilizado no modo macro (objetos muito próximos da lente, como na imagem a seguir) ou para foco infinito (na linha do horizonte). No modo macro é mais fácil perceber o que está em foco, mesmo em um monitor com baixa resolução. Já na hora de fotografar uma paisagem, o foco manual ajustado no infinito (∞) garante que a máquina não vai focalizar um objeto que esteja no primeiro plano, desfocando o fundo da paisagem.


Símbolo do modo macro em uma Canon EOS 60D. Esse modo deve ser utilizado para fazer fotografias com a lente muito próxima do objeto. 

Nas máquinas reflex analógicas (de filme) manuais, esse recurso costuma ser mais preciso e fácil de ser usado devido a recursos da própria lente. Um corte em um círculo central ou círculos concêntricos bem no meio do visor ajudam muito nessa tarefa. Basta girar o anel de foco até que a imagem ficasse bem definida no centro do visor ou que alguma borda ou linha que passasse ao centro da imagem ficasse bem alinhada.


Na clássica Nikon FM10 (maquina de filme 100% manual), ao olhar pelo visor, é possível observar dois círculos e um corte no centro de um deles. É por meio desses círculos que se sabe quando o objeto está em foco. Na imagem acima, é possível ver que objeto está fora de foco já que a linha que passa pelo centro da círculo está cortada e deslocada.

Ao girar o anel de foco, a linha que passa pelo centro da imagem ajusta-se indicando que aquela parte da imagem estará em foco quando o disparo for realizado (observe que o objeto está mais bem definido que na imagem anterior).

3) Monitor: Nunca confie na imagem apresentada no monitor da máquina para saber se o foco foi bem feito. Muitas vezes, temos a impressão que toda a imagem está nítida quando olhamos pelo monitor do equipamento. Mas só é possível ter certeza se o foco está correto com um monitor de computador, com a imagem em zoom de 100%, ou após imprimir a imagem. Na dúvida faça um novo disparo observando bem quais os objetos que estão em foco (a máquina apresentará quadrados sobre esses objetos, de acordo com sua regulagem).


Para que se tenha uma noção do nível de detalhes de um monitor das máquinas fotográficas observe as imagens a seguir:


Acima temos a reprodução exata (mesma resolução) de como uma imagem seria exibida no monitor da Canon SX50HS, lançada no fim de 2012. O LCD dessa máquina tem resolução de 784 x 588 pixels, concentrados em um pequeno monitor de 2,8 polegadas (bem menor que a metade da área que ocupa a imagem acima). Foi realizado um corte de 600 x 450 pixels para que a resolução no seu monitor seja a mesma da máquina (mesmo nível de detalhes).

Aqui temos um detalhe em zoom 100% (nível máximo de detalhes sem perda de qualidade para exibição em monitor). Observe que, apesar de o monitor apresentar uma imagem aparentemente boa, quando ampliada no computador o resultado não é tão bom.

4) Abertura: Conforme já explicamos no post anterior, se você não quiser ter problemas com o foco, deixe a lente o mais fechada possível (valor de "f/" alto). Quanto menor a abertura mais objetos estarão em foco (maior profundidade de campo). É claro que para conseguir uma abertura pequena você precisará ter bastante luz ou aumentar muito a sensibilidade.


Na fotografia acima a máquina foi regulada para utilizar abertura 3.5 com foco na pedra com duplo seis. Observe que apenas mais duas pedras ficam em foco (a anterior e a posterior). A demais pedras vão perdendo o foco progressivamente a medida que se distanciam da pedra para a qual direcionamos o foco.

Já nessa imagem a abertura utilizada foi 22, também com foco medido sobre a pedra com o duplo seis. Nesse caso, quase todas as demais pedras ficam em foco (maior profundidade de campo). Observe que, para compensar a lente fechada, foi utilizada uma sensibilidade alta (ISO 6400) gerando muito ruido.

5) Distância: Outro fator que pode aumentar ou diminuir a profundidade de campo é a distância da lente em relação ao objeto. Quanto mais distante o objeto estiver da lente mais planos ficarão em foco. Quanto mais próximo o objeto estiver, menos planos podem ser focados.



Nessa imagem o foco foi ajustado para a primeira pedra (duplo cinco), que estava bem próxima da lente da máquina. Como foi utilizada abertura 3.5, a pedra seguinte já perdeu um pouco de nitidez.


 Já nessa imagem o foco foi ajustado para a última pedra, a mais distante da lente. A lente também foi ajustada para uma  abertura 3.5. Observe que a quantidade de pedras em foco já é bem maior (ao menos cinco pedras com boa nitidez). A única diferença entre os dois ajustes foi a distância do objeto que foi utilizado para ajustar o foco.

6) Ajude a câmera: Procure colocar os limites ou linhas dos objetos que deseja deixar em foco nos pontos marcados na máquina. As máquinas utilizam linhas e contrastes no objeto fotografado para ajustar o foco. Objetos pouco iluminados, lisos ou sem contrastes dificultam o trabalho da máquina.

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