sexta-feira, 3 de maio de 2013

Lente (parte 1)

A lente é a principal parte de uma máquina fotográfica. É ela que torna a fotografia possível. As melhores lentes existentes no mercado chegam a ser mais caras que a própria máquina fotográfica. Só como exemplo, em janeiro de 2013, a câmera Canon mais cara (EOS 1D X) era vendida nos Estados Unidos a US$ 6.800 (só o corpo, sem lente). Só desse fabricante, no mesmo período, eram comercializadas ao menos seis lentes acima desse preço, sendo que a mais cara delas custava mais de US$ 13 mil (no câmbio da época, cerca de R$ 26 mil!).

Mas lentes caras como essa são dispensáveis se você não é um profissional especializado. Para um fotógrafo eventual e até para uma amador avançado a lente das máquinas compactas e até a lente amadora que vêm nos kits das reflex mais simples são suficientes em 99% das situações. Então vamos conhecer um pouco das lentes e as situações de uso.

Distância focal
Para ter uma noção dos efeitos de uma lente sobre uma imagem precisamos entender o que é distância focal. Para não cansar, vou deixar a física óptica de lado. Grosseiramente, podemos dizer que a distância focal é o valor que indica se as imagens geradas por uma lente "aproximarão" (lente teleobjetiva ou simplesmente tele) ou "afastarão" o objeto (lente grande angular). Esse valor é sempre expresso em milímetros. Uma lente pode ser fixa e ter apenas uma distância focal (50 mm, por exemplo) ou ter uma distância variável (28-80 mm).

"Minha máquina não tem esses valores. Diz apenas que o zoom é de 3x". Na verdade, ela tem esses valores. Mas como pouca gente sabe o significado deles fica mais fácil o fabricante dizer ao comprador quantas vezes ele "amplia" a imagem. Esse fator (3x) diz, na verdade, que a maior distância focal é três vezes maior que a menor distância focal. Ou seja, se a menor distância focal de uma lente for 25 mm, a maior distância focal será três vezes 25 mm, ou seja 75 mm. Os valores da maior e menor distância focal de uma máquina encontram-se na parte frontal de uma lente e no manual da máquina.

A distância focal da lente normalmente é informada na parte frontal da lente. No caso acima, a lente vai de 18 a 135 mm.

"Estranho... o valor informado na lente da minha máquina é 5-25mm. Não é muito baixo? Está certo?" O valor é esse mesmo, mas é preciso explicar um detalhe. Toda as medidas e teorias sobre o uso de lentes foi desenvolvido para câmeras que usavam filmes 35 mm. Os sensores das câmeras digitais, em geral, são bem menores que os filmes. Apenas as melhores câmeras reflex utilizam sensores com as mesmas dimensões de um filme 35 mm, as chamadas de full frame. Além disso, a distância entre a lente e o sensor não respeita os padrões que eram utilizados nas máquinas 35 mm. Por isso, para saber como utilizar melhor a sua lente ou na hora de escolher uma lente para comprar, é mais importante saber a distância equivalente em 35 mm (no caso das máquinas compactas) ou o fator de corte da sua máquina (nas reflex). Essa informação costuma estar presente no manual e em algumas peças publicitárias.

A lente da Canon PowerShot A1300 tem distâncias focais que variam de 5 a 25 mm (informada como 5x, ou seja a maior distância, 25mm, é cinco vezes o valor da menor distância, 5mm). Ela faz imagens equivalentes a uma lente 28-140 mm em uma máquina 35 mm.


Atenção: daqui em diante, todos os valores que forem citados dizem respeito a lentes para máquina 35 mm e equivalentes. Os efeitos sobre a imagem só acontecem no caso do uso de zoom óptico. Não daremos informações sobre o zoom digital pois além de diminuir a qualidade da imagem, o uso desse recurso não provoca as distorções ópticas que iremos abordar.

Regra geral, distâncias focais baixas (abaixo de 35mm) oferecem um ângulo aberto para imagens, sendo seu uso apropriado para espaços pequenos ou para abranger muitos objetos ao mesmo tempo. O uso dessas distâncias provoca distorção nas bordas das imagens. Por isso não são as mais adequadas para fazer retratos. As lentes nessa posição são chamadas grandes angulares. Alguns equipamentos usam apenas esse tipo de lente, como as câmeras de ação, da marca GoPro, ou lentes frontais dos smartfones. É isso mesmo: a lente na qual mais fazemos nossos retratos não são as mais adequadas para isso, mas são usadas porque permitem que seja possível fotografar à distância de um braço esticado, no caso, seu próprio braço.

Distâncias focais mais altas não apresentam essa distorção. Por outro lado tendem a escurecer a foto. Isso não costuma ser problema porque as câmeras tendem a corrigir automaticamente a luminosidade. Por isso, quando for fazer um retrato de alguém, busque se afastar das pessoas e usar o zoom para se aproximar. Isso vai fazer grande diferença. Além disso, essas lentes aproximam não só o objeto fotografado, mas tudo que está ao fundo. Isso pode fazer com que paisagens fiquem mais nítidas quando servem de cenário para um retrato de alguém. Usando uma lente grande angular tudo parecerá menor e mais distante.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O foco

Como foi comentado num post anterior, quem já operou uma câmera compacta de filme sabe que não havia necessidade de se preocupar com o foco. Você podia até não saber o porquê, ou nem se dava conta disso, mas a abertura da lente era tão pequena que dificilmente uma fotografia ficava fora de foco. Problemas com foco só aconteciam quando o objeto estava muito próximo da câmera.

Uma das consequências da adição de recursos nas máquinas digitais compactas é o aparecimento de preocupações que não existiam antes. É claro que, usando sua máquina no modo automático, essas preocupações são bastante reduzidas. A máquina é capaz de ajustar-se sozinha para que sua fotografia fique, na maioria das vezes, com uma boa qualidade.

Então para que eu vou me preocupar em entender e ajustar o foco minha máquina, se ela faz tudo para mim? O problema é que ela faz o que ela acha que você quer, e não necessariamente o que você deseja. Em alguns casos, você precisa dar uma mãozinha para sua máquina.

Seguem algumas dicas de como ajustar sua máquina para obter uma imagem com o foco no objeto correto.

1) Uso do foco automático: existem várias formas de a máquina ajustar o foco da imagem, mesmo no modo automático. Numa delas, a máquina procura o objeto que está no primeiro plano. Algumas máquinas ainda apresentam simultaneamente outros objetos que também ficam em foco. Normalmente são utilizados retângulos como na imagem a seguir. Nem sempre os celulares exibem essa informação.

Observe que, apesar de diversos objetos estarem presentes na imagem, a máquina procurou aquele que estava em primeiro plano, no caso, o celular de brinquedo. É para esse objeto que a máquina fará o ajuste do foco.

Nem sempre o objeto que você quer focalizar está no primeiro plano ou é selecionado corretamente pela máquina. Daí pode ser utilizada outra forma de ajustar o foco. A maioria das máquinas oferecem a opção de utilizar o ponto central do enquadramento ou um retângulo no centro do quadro para medir e ajustar o foco. A vantagem dessa modalidade é que é possível ter certeza (ou quase) de que seu objeto principal ficará em foco. Caso você queira enquadrá-lo fora do centro, basta seguir os seguintes passos: a) faça o enquadramento e os ajustes desejados (zoom, composição da imagem, sensibilidade, abertura, velocidade...); b) desloque o enquadramento de forma que o objeto escolhido para ficar em foco esteja no centro do visor; c) pressione o disparador a meio curso para que a máquina ajuste o foco no objeto desejado; d) mantenha o disparador a meio curso e retorne ao enquadramento desejado; e e) Conclua o disparo. Enquanto o disparador permanecer a meio curso, o foco da máquina estará travado.

No caso das câmeras de celulares, o foco pode ser definido tocando a tela sobre o objeto desejado. Em algumas delas há opção de travar o foco segurando o objeto ou acionando um ícone de cadeado.

 Nas máquinas do tipo reflex existem vários pontos onde o equipamento procura realizar o ajuste do foco no modo automático. Nesse modelo (Canon EOS 60D) são nove pontos (pequenos quadrados verdes e cinza). Por padrão, a máquina está ajustada para buscar o objeto que estiver em primeiro plano. No caso acima, a torre está a frente do galo. A máquina mostra que a torre está focada deixando os pontos de foco na cor verde.

A maioria das máquinas permite escolher um dos pontos disponíveis para que seja medido o foco. Para deixar o galo em foco, podemos escolher apenas o ponto central e mudar temporariamente o enquadramento para que o objeto desejado fique ao centro da imagem. Pressionado o disparador a meio curso, a máquina irá medir o foco no objeto que estiver bem no meio do quadro.

Sem soltar o disparador retorne ao enquadramento desejado. Enquanto o disparador estiver pressionado o ajuste do foco permanecerá inalterado. Aí é só concluir o disparo.

É importante lembrar que quando se pressiona o disparador a meio curso a máquina ajusta não só o foco como também realiza a fotometria. Se a máquina estiver sendo utilizada no modo manual, isso não será um problema, pois os ajustes feitos anteriormente não serão perdidos. Mas se a máquina estiver sendo utilizada no modo automático ficarão valendo os ajustes da fotometria realizada sobre o objeto focalizado. Isso pode ser um problema com uma imagem que tenha diferença de iluminação entre os diferentes objetos, deixando o objeto focado bem iluminado e os demais com sombra ou com luz estourada.

Ainda há câmeras e celulares que buscam automaticamente colocar em foco rostos humanos ou obter a maior profundidade de campo possível (máximo de planos ou de objetos em foco). Não pretendo abordar esse tipo de função aqui no blog, mas você pode postar um comentário para tirar alguma dúvida sobre esse tipo de função.


2) Foco manual: A não ser que você tenha muita experiência, não recomendo o uso do foco manual em câmeras digitais na maioria das situações. Em poucas máquinas esse recurso ajuda realmente. Como a resolução dos monitores das máquinas é pequena, fica bem difícil utilizar esse recurso com sucesso. Mesmo nas máquinas reflex, poucas são as situações em que esse recurso realmente ajuda. Sugiro que só seja utilizado no modo macro (objetos muito próximos da lente, como na imagem a seguir) ou para foco infinito (na linha do horizonte). No modo macro é mais fácil perceber o que está em foco, mesmo em um monitor com baixa resolução. Já na hora de fotografar uma paisagem, o foco manual ajustado no infinito (∞) garante que a máquina não vai focalizar um objeto que esteja no primeiro plano, desfocando o fundo da paisagem.


Símbolo do modo macro em uma Canon EOS 60D. Esse modo deve ser utilizado para fazer fotografias com a lente muito próxima do objeto. 

Nas máquinas reflex analógicas (de filme) manuais, esse recurso costuma ser mais preciso e fácil de ser usado devido a recursos da própria lente. Um corte em um círculo central ou círculos concêntricos bem no meio do visor ajudam muito nessa tarefa. Basta girar o anel de foco até que a imagem ficasse bem definida no centro do visor ou que alguma borda ou linha que passasse ao centro da imagem ficasse bem alinhada.


Na clássica Nikon FM10 (maquina de filme 100% manual), ao olhar pelo visor, é possível observar dois círculos e um corte no centro de um deles. É por meio desses círculos que se sabe quando o objeto está em foco. Na imagem acima, é possível ver que objeto está fora de foco já que a linha que passa pelo centro da círculo está cortada e deslocada.

Ao girar o anel de foco, a linha que passa pelo centro da imagem ajusta-se indicando que aquela parte da imagem estará em foco quando o disparo for realizado (observe que o objeto está mais bem definido que na imagem anterior).

3) Monitor: Nunca confie na imagem apresentada no monitor da máquina para saber se o foco foi bem feito. Muitas vezes, temos a impressão que toda a imagem está nítida quando olhamos pelo monitor do equipamento. Mas só é possível ter certeza se o foco está correto com um monitor de computador, com a imagem em zoom de 100%, ou após imprimir a imagem. Na dúvida faça um novo disparo observando bem quais os objetos que estão em foco (a máquina apresentará quadrados sobre esses objetos, de acordo com sua regulagem).


Para que se tenha uma noção do nível de detalhes de um monitor das máquinas fotográficas observe as imagens a seguir:


Acima temos a reprodução exata (mesma resolução) de como uma imagem seria exibida no monitor da Canon SX50HS, lançada no fim de 2012. O LCD dessa máquina tem resolução de 784 x 588 pixels, concentrados em um pequeno monitor de 2,8 polegadas (bem menor que a metade da área que ocupa a imagem acima). Foi realizado um corte de 600 x 450 pixels para que a resolução no seu monitor seja a mesma da máquina (mesmo nível de detalhes).

Aqui temos um detalhe em zoom 100% (nível máximo de detalhes sem perda de qualidade para exibição em monitor). Observe que, apesar de o monitor apresentar uma imagem aparentemente boa, quando ampliada no computador o resultado não é tão bom.

4) Abertura: Conforme já explicamos no post anterior, se você não quiser ter problemas com o foco, deixe a lente o mais fechada possível (valor de "f/" alto). Quanto menor a abertura mais objetos estarão em foco (maior profundidade de campo). É claro que para conseguir uma abertura pequena você precisará ter bastante luz ou aumentar muito a sensibilidade.


Na fotografia acima a máquina foi regulada para utilizar abertura 3.5 com foco na pedra com duplo seis. Observe que apenas mais duas pedras ficam em foco (a anterior e a posterior). A demais pedras vão perdendo o foco progressivamente a medida que se distanciam da pedra para a qual direcionamos o foco.

Já nessa imagem a abertura utilizada foi 22, também com foco medido sobre a pedra com o duplo seis. Nesse caso, quase todas as demais pedras ficam em foco (maior profundidade de campo). Observe que, para compensar a lente fechada, foi utilizada uma sensibilidade alta (ISO 6400) gerando muito ruido.

5) Distância: Outro fator que pode aumentar ou diminuir a profundidade de campo é a distância da lente em relação ao objeto. Quanto mais distante o objeto estiver da lente mais planos ficarão em foco. Quanto mais próximo o objeto estiver, menos planos podem ser focados.



Nessa imagem o foco foi ajustado para a primeira pedra (duplo cinco), que estava bem próxima da lente da máquina. Como foi utilizada abertura 3.5, a pedra seguinte já perdeu um pouco de nitidez.


 Já nessa imagem o foco foi ajustado para a última pedra, a mais distante da lente. A lente também foi ajustada para uma  abertura 3.5. Observe que a quantidade de pedras em foco já é bem maior (ao menos cinco pedras com boa nitidez). A única diferença entre os dois ajustes foi a distância do objeto que foi utilizado para ajustar o foco.

6) Ajude a câmera: Procure colocar os limites ou linhas dos objetos que deseja deixar em foco nos pontos marcados na máquina. As máquinas utilizam linhas e contrastes no objeto fotografado para ajustar o foco. Objetos pouco iluminados, lisos ou sem contrastes dificultam o trabalho da máquina.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Ajuste de abertura

A lente de uma máquina é bem parecida com nosso olho. Nossa pupila de dilata (abre) quando estamos em um ambiente escuro para deixar passar mais luz até nossa retina, e se contrai (fecha) quando há muita luz, reduzindo a passagem dessa. Assim também utilizamos a abertura da lente para compensar o excesso ou a falta de luz indicada no fotômetro.

Mudando o valor da abertura de uma lente podemos compensar a falta ou o excesso de luz. No caso de uma situação em que você deseja aumentar a velocidade do obturador para "congelar" um movimento, você poderá compensar a redução da quantidade de luz que entra na máquina aumentando a abertura da lente. Usando o mesmo princípio, se você tem excesso de luz, pode fechar mais a lente para reduzir a quantidade de luz que incide sobre o sensor. Infelizmente, por conta do tamanho reduzido das lentes, os celulares não apresentam a opção de regular essa função.

Nessa fotografia foi utilizado flash (para iluminar a criança) e abertura f/3,4 (para que o fundo escuro pudesse aparecer na imagem. Caso tivesse sido utilizado apenas o flash, o fundo poderia ter ficado escuro.

A forma como a câmera exibe a abertura pode confundir. O valor da abertura é uma fração e os valores, nas melhores máquinas, podem variar entre f/1.4, f/1.8, f/2, f/2,8, f/4, f/5.6, f/8, f/11, f/22 e f/32. Mas, normalmente, os equipamentos só exibem a base da fração, ou seja, 1.4, 1.8, 2, 2.8, 4, 5.6, 8, 11, 22 e 32. O número que a máquina exibe para indicar a abertura é o denominador de uma fração. Se a câmera exibe abertura 22, na verdade o valor seria f/22. Por isso, quanto maior o número apresentado, menor a abertura.

O efeito da abertura da lente sobre a imagem é uma maior ou menor quantidade de objetos bem focalizados na fotografia. Uma lente bem fechada (f/22 ou f/11, por exemplo) aumenta a quantidade de planos que podem ficar focalizados. Ou seja não só o assunto principal da fotografia ficará em foco, mas também alguns objetos que ficam antes e depois desse assunto. Em determinadas situações, toda a imagem ficará em foco.

Nesse disparo, a máquina foi regulada com abertura f/22. Observe que quase todos os objetos do quadro estão razoavelmente focalizados, inclusive a parede do fundo. Foi necessário que houvesse bastante luz para que essa abertura fosse possível, já que a lente ficou com sua abertura bem estreita.

No sentido oposto, se a lente ficar mais aberta (f/2.8 ou f/4, por exemplo) para permitir que entre mais luz na câmera, apenas um objeto, ou mesmo centímetros desse objeto, ficarão focados.

Já nessa imagem a máquina estava regulada com abertura f/3.5. Observe estão bem focalizados apenas as folhas que estão no mesmo plano da fruta que está a frente. A parede do fundo está praticamente irreconhecível (compare com a fotografia anterior). Todos os demais objetos estão fora de foco, principalmente os mais distantes. Para compensar a quantidade de luz que entra pela lente, pode-se reduzir a sensibilidade (ISO) ou aumentar a velocidade.

O problema é que nem todas as máquinas e nem todas as lentes possuem essas aberturas. Nas câmeras compactas é muito difícil obter grandes aberturas (valores abaixo de f/5) por causa do tamanho da máquina e de sua lente. Mesmo nas lentes mais simples de câmeras reflex, é bem difícil obter grandes aberturas, pois as lentes que fazem parte dos kits, em geral, possuem abertura máxima entre 4 e 5.6. Lentes mais luminosas costumam ser bem caras.

Para dar uma ideia dos valores, uma lente 50mm com abertura máxima 1.8 de uma marca famosa custava, janeiro de 2024, entre R$ 800 e R$ 900. Já para uma lente da mesma marca e formato com abertura máxima de 1.4, o preço sobe para aproximadamente R$ 2.000. Se a abertura máxima for de 1.2, o preço dispara: no mínimo R$ 8.500. É claro que outros fatores e funcionalidades interferem nesse preço, mas dá ter uma noção do custo de se comprar uma lente com uma abertura versátil.

Poderíamos, então, resumir tudo o que falamos sobre a abertura da lente em dois efeitos principais:

1) Quantidade de luz que entra pela lente: Quanto maior a abertura (valores baixos de "f/", como 2 ou 4), maior a quantidade de luz que incidirá sobre o sensor. Quanto menor a abertura (valores altos de "f/", como 16 ou 32), menor a quantidade de luz que incidirá sobre o sensor. O aumento da abertura pode ser compensado com o aumento da velocidade e vice-versa. Outras opções são o ajuste da sensibilidade ou da própria iluminação.

2) Quantidade de objetos em foco: Quanto maior a abertura, menor a quantidade de objetos em foco. Quanto menor a abertura, mais planos da imagem ficam em foco.

Para fazer uma fotografia como essa, onde o fundo fica fora de foco e o bebê fica destacado, em foco, é necessário abrir a lente o máximo possível (valores mínimos de "f/"). Nesse caso, como o fundo estava distante, foi utilizada abertura f/10.

domingo, 29 de julho de 2012

Ajuste de velocidade

O ajuste de velocidade determina o tempo que o sensor da máquina ficará exposto à luz. Para simplificar o entendimento vou falar de como funcionavam as câmeras de filme. Nas digitais podem ocorrer algumas diferenças, mas não vale a pena entrar em detalhes. Quando o disparador não está pressionado, uma cortina rígida bem fininha protege o filme para que ele não seja exposto à luz que vem de fora da câmera e entra pela lente. Chamamos essa cortina de obturador. Na hora em que apertamos o disparador, essa cortina se abrirá e uma outra irá se fechar. O intervalo entre a abertura da primeira cortina e o fechamento da segunda pode ser regulado para que o filme ou o sensor fique mais ou menos tempo exposto à luz. Normalmente esse intervalo é definido por frações de segundo. Você define isso ao ajustar a velocidade do obturador (Tv).

O vídeo a seguir mostra em câmera lenta o funcionamento do obturador. A câmera do filme é uma reflex, por isso, no início da cena um espelho se levanta. Logo depois o obturador se move. O movimento é tão rápido que o intervalo entre as duas cortinas não é perceptível na primeira parte do vídeo. Só dá para perceber em câmera muito lenta, nas últimas repetições.


Vídeo do perfil cameratest do Youtube

Entendendo como funciona o obturador, fica mais fácil entender os efeitos da sua regulagem. Você pode ajustar a velocidade do obturador (intervalo entre a abertura da primeira cortina e o fechamento da segunda) em segundos ou em fração de segundos. Nas máquinas, quando é possível regular a velocidade, seus valores costumam variar de 30 segundos a 1/2.000 segundos (0,0005 seg.). Nas melhores máquinas a velocidade máxima pode ultrapassar 1/10.000 segundos (0,0002 seg.). Num smartfone de ponta esse comando também existe e está disponível no modo "pró".

Sabendo disso, é fácil perceber que ficará registrado na fotografia tudo aquilo que acontecer no intervalo em que o obturador ficar aberto. Se o obturador abre e fecha quase instantaneamente (1/2000 seg., por exemplo), a imagem ficará estática (a não ser que você esteja fotografando algo extremamente veloz, como um tiro ou algo parecido). Já uma imagem com o obturador regulado em 1 seg. é bem provável que quase todos os objetos deixem um rastro na imagem. Nesse caso, mesmo que tudo esteja parado, você irá "chacoalhar" a câmera. Em um segundo, não adianta nem prender a respiração.

Exemplo de uma fotografia que ilustra os efeitos do ajuste de velocidade em uma imagem. Essa fotografia foi tirada com velocidade 1/200 seg. A velocidade é suficiente para que o mão do fotógrafo não faça a imagem ficar tremida, mas não para congelar o movimento do garoto que está saltando.

Para facilitar sua escolha, vai aí um esquema simplificado dos intervalos de velocidade e como utilizá-los.

- de 30 seg. a 1/20 seg.:
Usado para fotografam em ambientes extremamente escuros, mas com objetos estáticos. A ideia é que luzes fracas possam aparecer na foto. Mas tem um grande problema: mesmo imóvel, sem respirar, sua fotografia vai ficar tremida. Até o toque do seu dedo no disparador fará a câmera vibrar. A solução é usar um tripé ou apoiar e seu celular ou máquina sobre uma superfície firme. As câmeras profissionais ou semiprofissionais têm a opção de acoplar um disparador. Também há disparador bluetooth para celulares. Caso não tenha esse acessório disponível, você pode programar sua câmera para disparar sozinha após 2 ou 10 segundos. Use essas velocidades em fotografias noturnas ou de dia para deixar uma queda d'água com um aspecto leitoso (nesse caso, evite dias muito claros ou lugares com incidência direta do sol para evitar que a luz estoure).

Na fotografia acima, a máquina foi colocada sobre um tripé. Foi programada para disparar em dois segundos após pressionado o botão e o obturador permaneceu aberto por dez segundos.

Outro exemplo de uso de baixa velocidade. A 1/8 seg. a água parece mais um véu ou uma fina camada leitosa. Na verdade a imagem apresenta os vários pontos por onde a água passou enquanto o obturador esteve aberto.

- 1/30 seg. a 1/125 seg.:
Se for fotografar sem tripé, fique bem apoiado, e procure prender a respiração na hora do disparo. Isso pode não ser suficiente em 1/30 seg. A maioria dos flashs funciona nesse intervalo, principalmente nas compactas. O uso do flash pode ajudar a manter os objetos estáticos em ambientes escuros. Essas velocidades podem ser úteis quando se quer mostrar de propósito o rastro de um objeto em movimento para dar a sensação de velocidade.

Veículo a aproximadamente 80km/h fotografado com o obturador regulado para 1/125 seg. A velocidade do obturador não foi suficiente para manter os veículos "estáticos". Mas observe que todo o restante da imagem ficou congelado.

- 1/200 seg a 1/500 seg.:
Fique mais a vontade. Essa velocidade é suficiente para que a imagem fique estática na maioria das situações cotidianas (fotos de família, paisagens, detalhes de objetos...), mas evite objetos em alta velocidade (como na fotografa acima e abaixo). A não ser que você queira que o objeto fotografado deixe um rastro. Ou você pode tentar acompanhar o movimento do objeto e deixar o fundo borrado, aprofundando a sensação de velocidade (veremos como fazer isso mais a frente).



A 1/500 seg., um veículo a 80 km/h fica quase nítido. Mas a velocidade do obturador ainda não foi suficiente. Há menos borrões que na imagem anterior, mas o carro ainda não está nítido.


- 1/1000 seg. ou mais rápido: Velocidades utilizadas para fotografar objetos em movimento ou em um ambiente com muita luz. Também  pode ser utilizada para congelar o movimento de objetos rápidos.
Com o obturador abrindo e fechando em 1/8000 seg., o veículo a 80km/h parece estar estacionado. Mesmo as rodas parecem estáticas.

As regras acima não são rígidas. Quanto maior o zoom utilizado, maior a velocidade que será necessária para evitar que o próprio disparo deixe a imagem tremida. A distância do objeto para a câmera também pode interferir. Mas na maioria dos casos, seguindo essas regras você fará boas fotografias.

Um último detalhe: as câmeras nem sempre exibem a velocidade em fração de segundo. Por exemplo, na maioria das câmeras a velocidade 1/200 seg. é apresentada apenas como 200. Nesse caso, quando o tempo ultrapassar um segundo, a velocidade será apresentada seguida de uma aspa dupla ("). Ou seja, para dez segundos a máquina exibirá 10" e para um décimo de segundo apenas 10.

domingo, 15 de julho de 2012

Abertura e Velocidade - Introdução

Vamos começar a falar dos ajustes mais técnicos das nossas máquinas. Por isso, nem todas as câmeras possuem a possibilidade realizar alguns comandos dos quais iremos falar. Mesmo assim, é importante que um amador conheça essas funções. Primeiro porque você vai querer conhecer e extrair o máximo do seu equipamento se ele permitir determinados ajustes. Depois, porque, mesmo sem precisar, muita gente compra máquinas com essas funções.

Nosso assuntos será a abertura da lente e a velocidade do obturador. Vamos falar sobre esse assunto em pelo menos três posts (este e mais dois), mas vamos voltar a falar desse assunto muitas outras vezes, porque esses ajustes são muito usados para fotografar assuntos específicos. Objetos em alta velocidade (para deixar ou não um rastro na imagem), imagens com foco apenas no primeiro plano, fotografias noturnas... essas são apenas algumas dos situações em que conhecer esses ajustes vai facilitar sua vida.

Imagens como essa, em que as luzes dos carros deixam rastros, só são possíveis com ajuste do tempo de exposição, ou seja, mudando a velocidade do obturador.

Nessa imagem, o bebê aparece bem nítido, no primeiro plano, o o fundo fica desfocado, destacando a criança. Para obter esse efeito é necessário ajustar a abertura da lente.

Antes de entender o que cada uma dessas funções representa, é preciso saber se sua máquina permite esses ajustes. Como identificar uma máquina que possua ajustes de abertura e velocidade? Primeiro, a máquina deve ter a possibilidade de um ajuste manual, identificado pela letra M ou P no seletor de funções. Esse seletor, geralmente é um disco localizado na parte superior da máquina. Quando comentamos sobre  a escolha de uma máquina já falamos um pouco sobre isso. No smartphones, apenas aqueles que, a função câmera, é possível escolher o modo "pró". Normalmente essa função só está presente nos modelos top de linha, como a linha S da Samsung. Mesmo assim, devido às limitações de espaço e de construção, esses aparelhos não permitem todas as regulagens que falaremos aqui.

Além do ajuste manual as câmeras costumam permitir os ajustes com prioridade de abertura, no qual você escolhe a abertura da lente a a máquina ajusta o restante dos parâmetros (representado por um A ou Av no disco seletor) e com prioridade de velocidade (representados por um S, Tv ou T). Ainda existem máquinas que, apesar de não possuírem o tal disco seletor, ainda permitem o ajuste manual de abertura e velocidade. O melhor é ler o manual da máquina e tomar muito cuidado com o que dizem os vendedores. Regra geral: essa máquinas não são as mais baratas, mas não precisam ser absurdamente caras.


Exemplo de máquina com disco seletor que permite ajuste manual (M e P) além da prioridade de abertura (A) e da prioridade de velocidade (S).

De uma forma simples, podemos resumir o uso dos comandos da seguinte forma:

1º) Quanto mais aberta uma lente e menor a velocidade do obturador, mais luz entra.
2º) Quanto mais fechada uma lente e maior a velocidade do obturador, menos luz entra.
3º) Se o fotômetro indica que a luz está correta e eu quero aumentar a velocidade do obturador (menos luz), preciso compensar permitir que mais luz entre abrindo a lente.

Mas vamos com calma. É melhor a gente entender como tudo isso funciona, seus efeitos na imagem e os riscos. Por isso vamos falar detalhadamente sobre esses assuntos nos próximos posts. Vamos começar pelo que é mais fácil de explicar e usar: a velocidade do obturador.

domingo, 8 de julho de 2012

O fotômetro


Como já havia dito, nas antigas compactas de filme não havia como fazer ajustes para aumentar ou diminuir a quantidade de luz que entrava pela lente. Era disparar com o flash ligado e torcer para que a luz fosse suficiente. Com as facilidades proporcionadas pelas digitais a grande maioria das máquinas oferece recursos para regular a quantidade de luz que bate no sensor, ainda que poucos usuários saibam como utilizar esses recursos.

Mas antes de realizar qualquer regulagem manual na sua máquina, você precisa conhecer um aparelho que auxilia na medição da luz: o fotômetro. Você pode até não saber, mas sua máquina possui num desses. O fotômetro indica graficamente se a luz que está atingindo o sensor da máquina é ideal, insuficiente ou exagerada. Normalmente, ele é apresentado no monitor ou no visor de sua máquina dessa forma:


O ponto zero do fotômetro (no centro) representa a quantidade de luz ideal para sua fotografia. A região negativa (à esquerda do zero) representa insuficiência de iluminação e a região positiva (à direita do zero), o excesso de luz. As máquinas apresentam a quantidade de luz que está entrando em cada momento com uma seta, um ponteiro ou uma faixa abaixo ou ao lado do gráfico.

Exemplo de  situação em que o fotômetro mostra que deve haver mais luz que o necessário 

Nessa imagem, o fotômetro indica que a luz pode ser insuficiente

Por meio da leitura do fotômetro, é possível saber, antes do disparo, se é preciso fazer algum ajuste para que a imagem tenha a quantidade de luz correta. A leitura é realizada no momento em que o fotógrafo faz a meia carga no disparador. Há uma infinidade de possibilidades para essa correção: fechar ou abrir a lente, aumentar ou diminuir a velocidade do disparo, aumentar ou diminuir a sensibilidade, mudar o enquadramento, entre outras possibilidades. para todas elas há prós e contras. Já vimos os efeitos do ajuste da sensibilidade (ISO). Nos próximos posts falaremos de outra mudanças possíveis.

A fidelidade da informação do fotômetro depende do modo de medição da luz e até do assunto. Em geral o fotômetro apresenta uma leitura correta. Mas é preciso ter atenção em situações em que há diferenças na iluminação das diversas partes do quadro, excesso de cores claras ou excesso de cores escuras. As situações clássicas são fotografias em praia, em neve ou em fundos muito escuros. Nessas situações, em geral, o fotômetro é enganado e quando fotografamos no automático a máquina deixa entrar pouca luz onde já há excesso de luz (praia e neve) e  deixa entrar muita luz onde há fundos escuros. O resultado são areia e neve escuras e um preto acinzentado.

Nos próximos posts vamos mostrar quais as opções que existem para corrigir essas e outras situações de excesso e de falta de luz.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sensibilidade (ISO ou ASA)

Por meio do ajuste de sensibilidade é possível reduzir a quantidade de luz necessária para que a máquina possa capturar uma imagem. Simples assim. Mas, como tudo no mundo, o uso dessa “mágica” tem suas conseqüências. Estava bom demais para ser verdade, não é?

A regra básica para a regulagem da sensibilidade é: quanto mais luz, menor o ISO necessário e maior a qualidade da imagem. Se for utilizado um ISO muito alto, pode ocorrer o que se chama de “ruído”, uma espécie de sujeira na imagem que reduz sua nitidez. Observe as fotografias abaixo, seguidas de seus respectivos detalhes, todas realizadas com a mesma máquina compacta Olympus:






Observe que, à medida que se aumenta o valor do ISO, a imagem fica menos “lisa”. Observe também que o efeito é mais visível nas partes mais escuras da imagem.

Na maioria das máquinas, os valores de ISO começam do ISO 100 e vão dobrando (200, 400, 800, 1600, 3200...). No entanto algumas máquinas permitem regulagens intermediárias. As boas máquinas de possuem ISO inferior ao 100, como 80 ou 50. Isso permite fotos mais nítidas em situações de muita luz.. É possível regular a máquina para que o ISO seja selecionado automaticamente. Nesse caso, é possível que alguns valores de ISO, principalmente os mais altos, não estejam disponíveis.

A quantidade de ruído para um mesmo ISO varia de uma máquina para outra. Com a evolução tecnológica o ruído também diminui bastante. Minha primeira máquina digital, uma Canon PowerShot A95 (compacta, 5 megapixels, lançada em 2004), possuía as opções de ISO 80, 100, 200 e 400. Naquela máquina, o ISO 400 era muito ruim. Na maioria das máquinas de hoje, o ISO 800 tem um ruído muito menor menor, quase imperceptível.


Compare as imagens acima e veja que o ISO 800 de uma Canon 60D produz menos ruído que o ISO 400 de uma Canon S5IS

ISO e flash
No post sobre a iluminação, comentei que o flash é regulado pela máquina para iluminar bem o objeto que estiver no primeiro plano, o que costuma deixar no escuro o que estiver por trás. Por meio da regulagem da sensibilidade é possível reduzir esse efeito. O aumento da sensibilidade ajudará a máquina a captar a luz dos pontos mais escuros, que não forem iluminados pelo flash. Ao mesmo tempo, a menor potência necessária para que o flash ilumine o objeto no primeiro plano ajudará a reduzir a diferença de luz entre o primeiro e os demais planos.

Para a imagem acima, a sensibilidade da máquina foi ajustada para ISO 100. Foi utilizado o flash embutido no modo automático. Observe que a luz ambiente não é suficiente para iluminar o fundo e o alcance do flash não vai muito além do objeto em primeiro plano.

Já nessa imagem a sensibilidade utilizada foi ISO 800, também com flash automático. Observe que o fundo fica melhor iluminado já que boa parte da luz ambiente é captada. O flash permanece iluminado apenas o primeiro plano. A área mais ao fundo (amarelada) é iluminada por uma luz diferente.

Curiosidade:
Quem já fotografou com filme lembra que a escolha da sensibilidade ocorria na hora de comprar o filme. O mais comum era o ISO 100 (ou ASA 100), filme apropriado para fotografar à luz do sol. O ISO 400 era usado com flash em ambientes internos, com flash. O ISO 200, menos comum, podia ser usado com o céu nublado. Já nas câmeras digitais, o ISO pode ser mudado a cada fotografia e o leque de opções é bem maior, mesmo nas máquinas mais simples.

Nos filmes também acontecia o ruído. Mas, naquela época, o nome era outro: granulação. Visualmente era exatamente isso que se via, pequenos grãos na imagem, que acabava ficando um pouco menos nítida. O efeito não era tão desagradável. Aliás, alguns fotógrafos faziam da granulação sua marca registrada.